O que seria o sonho?




Creio que todos nós desejamos entender esses pequenos filmes que passam em nossas mentes quando dormimos. Alguns são tidos como premonição, revelações, reprodução imagética do que durante o dia o seu inconsciente capturou e, então, quando seu corpo dorme seu cérebro se manifesta. Enfim, existem inúmeras justificativas, algumas plausíveis, outras nem tanto. Mas o objetivo aqui ainda nem é entender esse fenômeno, mas esboçar em palavras o que vivi em um sonho essa tarde.

Que eu tenho inúmeras paixões, tanto pelas artes, quanto por pessoas, acho que isso não é segredo para ninguém, se for, aqui, então está revelado.

De alguns dos detalhes terei de abrir mão, até porque não recordo todos, mas tentarei trazer com clareza cada parte, que ainda está nítida na memória.

Era uma cidade pequena, uma viagem que fiz juntamente com uma equipe de fotógrafos, jornalistas, atores e produtores. Alguma apresentação, ou evento muito especial estava acontecendo, eu estava ali para cobrir tudo para uma revista.

Era tudo muito agitado, correndo para todos os lados, preparando tudo e todos. Mas, eu estava ali para trabalhar, entrevistar, escrever, ajudar na produção. No entanto o que mais fazia era olhar para ele. Aquele olhar, o rosto, a pele, o sorriso. Eu não conseguia desviar a atenção desses detalhes enquanto trabalhava. Até porque, cada desvio do meu olhar era correspondido com a mesma ação.

Depois de tanto trabalharmos, recordo que ainda arrumávamos nossas coisas, conversamos e saímos, todos da equipe juntos. Foi ai que as coisas ficaram mais incompreensíveis e interessantes. Incompreensíveis porque, por mais que desejávamos a mesma coisa, algo nos separava. Interessantes porque sentia os sentimentos dialogarem, eu não estava sozinho.

E foi mais ou menos dessa forma.
Saímos do estúdio onde trabalhávamos e depois de encontrar com toda equipe voltamos, não sei exatamente para onde, acho que nossos alojamentos. Não era hotel nem pensão. Algum lugar improvisado, mas aconchegante. Eu o seguia a todos os lugares, ele se permitia capturar a todo o momento. De alguma forma, todos os nossos colegas começaram a perceber o que estava acontecendo. Tínhamos o apoio de todos. Mas apoio para o quê? Não aconteceu nada. Somente olhares, algumas palavras, poucas na verdade, ditas de forma tímida.

Eu apressava para estar nos lugares que ele estava. Ele por sua vez também me procurava. Lembro-me de encontros, mas também desencontros. Esse desejo um pelo outro nos mantinha longe, porque estávamos muito ansiosos.

Vez por outra, quando conseguíamos nos encontrar, percebíamos um sentimento muito intenso no olhar um do outro. O olhar dele era como duas luas iluminadas pelo sol, no auge do brilho, subindo no horizonte. O meu era como duas câmeras de alta resolução, creio que até visão noturna possuía, porque não importava onde nem como, eu o achava. O sorriso dele se contraia suavemente deixando escapar, juntamente com o brilho dos olhos, um desejo que identificava com o meu.

Eu me recordo de subir em telhados para observá-lo, entrar as escondidas nos locais onde ele estava quando fazíamos nossos trabalhos individuais.
Lembro-me das paisagens, das casas, que eram antigas, muitas em estilo barroco, estradas de calçamento. No horizonte, colinas e montanhas bem verdes, árvores enormes delimitavam o espaço entre casas e mata. Algumas ruas eram bem estreitas, por onde ele e eu caminhávamos lado a lado. Podia ouvir e sentir a respiração, de tão perto. O céu tinha aquele tom amarelado de fim de tarde, mesmo quando era tenra manhã.

No entanto, mesmo com todos esses sinais, ali no sonho mesmo eu percebi. Percebi que era irreal. O meu cérebro criou uma personagem de alguém que mal conheço na vida real. Vi muito mais sentimento no sonho do que nos contatos que tivemos quando estivemos juntos, face a face.

Eu sou facilmente envolvido por esses sonhos, até porque alguns deles já se tornaram realidade. Não porque busquei, mas como disse no início, era algo como previsão. Quanto a esse, não. Não creio que seja uma previsão, acredito mais que dormi para descansar, e como meus sentimentos estavam livres e abertos, acabou que meu inconsciente encontrou lugar propício para inventar e satisfazer-me, é o mais aceitável.
Saindo do sonho, entrando na vida real. As ruas dão lugares às páginas da internet, onde ainda o visualizo. Sem contato, sem olhares que possam se cruzar. Sem noção, ele, do que carrego no peito, sem ideia, eu, do que passa na mente dele. Coincidentemente, por destino ou por lei da atração - seja lá qual a justificativa - as atualizações de páginas trazem o rosto dele diversas vezes à minha tela. Mas não é a personagem do meu sonho.

O sonho deixa de ser sonho e vira um quadro de imagens, pintura eu diria. Cheia de cores, repleta de tonalidades e rabiscos. Vejo-nos nas ladeiras daquela pequena cidade, vejo-nos nas estreitas ruelas. Às vezes a sensação que tenho,
como já experimentei antes, é a de que, na verdade, quando tenho esses sonhos, o que realmente acontece é o meu cérebro dando rosto aos meus sentimentos. Então concluo, no fim do dia, que na verdade eu sonhei comigo mesmo.

Comentários

  1. Muito legal, primo! Adorei!
    Continue escrevendo textos legais para eu apreciar! rsrs
    Um beijo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

"Revele você também o entendimento do seu Eu a partir do que lê do meu"

Postagens mais visitadas deste blog

Nas ruas de Paris -Tão real quanto um sonho