Velho futuro - Novo passado - Final

A Lua tomou o lugar do Sol no céu.
Fez-se noite.
Nessa escuridão o corpo se entrega e descansa.
Não há sons que o desperte.

Pela manhã, não lhe percebi tão próximo como antes.
Estava na sala, sentei-me ao seu lado,
Isso bastou para que você agisse, como se eu fosse sua energia para ter a vida.
Sorrindo, você disse que os dias estavam perfeitos.
Eu concordei com um aceno.

Fomos andando, eu precisava cumprir com meus compromissos.
Você sempre do meu lado, tão perto.
Mas em um silêncio um tanto quanto assustador.
Olhos brilhando, como se nunca tivessem visto o mundo.
Virei-me e disse que estar com você era como não precisar de mais nada.
Você devolveu o aceno daquela manhã no sofá.

Quando na infância, nós éramos: mais ágeis, mais vistosos, tínhamos uma disposição imensa.

Hoje: mais velhos, caídos, sem forças.
Mas a energia que transmitíamos era a mesma, o brilho no olhar não mudou.
Assim como brilham as estrelas no céu nossos olhares mantinham a mesma luz.

Você fitou-me num olhar, deu um suspiro profundo,
Abaixou a cabeça e disse que eu já tinha sobrevivido a tudo.
Não entendi o que queria dizer.
Pediu desculpas pela ausência em todos estes anos.
Pousou sua mão sobre o dorso da minha mão direita, ela tinha um frio cadavérico.
A energia que senti fez-me suspirar e olhar para o lado, em busca de um alento.
Quando voltei o olhar, para lhe dizer que eu perdoava sua falta, você não mais estava.

Previ este momento, mas não sabia que seria tão repentino.
Pensar que você retornou e que iriamos ficar juntos para o “para sempre” foi uma ingenuidade.
Manter essa crença seria insanidade.
Mas, foi tão bom viver essa loucura.
Entregar-me a fantasia do que um dia criei quando criança.

Pois, a loucura de um homem é sua tática de sobrevivência em meio às adversidades.
E eu me alimentei disso o quanto foi possível.

Não é sempre que podemos rever nossos amigos.
Não é sempre que podemos reviver uma fantasia.
Não é sempre que recuperamos a capacidade de criar, e recriar.

Não é sempre que trazemos de volta um amigo imaginário, e mais que isso, um ente que ainda vive dentro de mim.
Isso é ousadia para poucos.

Fim